Belo Horizonte MG – 22/09/2023 | Enio Fonseca
Durante o V Encontro Nacional das Cidades Mineradoras coordenado pela AMIG- Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais e do Brasil, que aconteceu em Belo Horizonte, nos dias 19 e 20 de setembro, foi discutido um tema da maior importância para a sociedade brasileira, e em especial a mineira, que é a priorização do desenvolvimento da indústria siderúrgica nacional.
Na abertura do evento foi assinado um Protocolo de Intenções entre a AMIG, o Sindicato da Indústria do Ferro do Estado de Minas Gerais (Sindifer), e a Associação de Mineradoras de Ferro do Brasil (Amfbr). O termo tem por objeto a cooperação mútua das partes para realização de debates, proposição e execução de ações relacionadas ao desenvolvimento sustentável da indústria siderúrgica de Minas Gerais, de modo a resguardar as condições de preferência e/ou prioridade no mercado no que tange à matéria prima necessária para a transformação mineral, de segurança operacional, das pessoas e do meio ambiente, bem como contribuir para manter um horizonte perene de segurança jurídica e competitividade plena ao setor siderúrgico mineiro e brasileiro, devendo ser constituído um Grupo de Trabalho entre os signatários e a participação de outros atores para discutir estratégias para incrementar a cadeia econômica do ferro gusa.
A indústria siderúrgica a carvão vegetal produz o ferro gusa , a partir do minério de ferro, um insumo para a produção de de aço, inclusive o aço verde, sendo um segmento importante na economia nacional, e que tem um grande potencial de crescimento.
O setor de produção de Ferro Gusa no Brasil, formado pelas usinas independentes, encerrou o ano de 2022 com 60 usinas e uma capacidade instalada de 692.400 t/mês. Têm as seguintes localizações: 53 na Região Sudeste (51 em Minas Gerais e 02 no Espírito Santo), 04 na Região Norte/Nordeste (03 no Pará e 01 no Maranhão) e 03 na Região Centro Oeste (todas no Mato Grosso do Sul).
O número total de empregos do setor siderúrgico em MG, no ano de 2022 foi de 124.473. Minas Gerais exportou em ano passado 2.565,46 (em 1.000 t)
O Instituto Brasileiro de Mineração- IBRAM, em seu relatório setorial, mostrou que setor registrou no primeiro semestre de 2023, faturamento de R$120 bilhões. O minério de ferro se destacou com um faturamento de R$70,1 bilhões, com participação de 58% O recolhimento de tributos e encargos foi de R$ 41,4 bilhões, e a arrecadação de CFEM foi de R$ 3,4 bilhões,
O saldo da balança comercial do setor mineral foi de US$ 13,66 bilhões, que equivale a 30% do saldo da balança comercial brasileira.
Ainda de acordo com o Instituto, o minério de ferro é uma das principais commodities do mundo, e o Brasil é um dos maiores produtores mundiais, sendo que deste minério foram exportados em 2022, 344,1 milhões de toneladas , gerando uma receita de R$ 153,5 bilhões, equivalente a 61% da receita total de minerais exportados.
No entanto , quando comparamos a produção de ferro no mundo entre os anos de 2007 e 2021, numa análise feita pela Western Australia iron ore profile-March 2023, em milhoes de toneladas, vimos que a Austrália passou de 40 para 900, um salto de 2.150%, a India passou de 140 para 240, um crescimento de 71%, o Canadá, de 30 para 68 , crescimento de 127% e o Brasil saiu de 355 para 380 um aumento insignificante de 7%.
Observando a importância que a produção de minério tem para o Brasil, os números robustos que ele representa na matriz de exportação, sua grande utilização na produção de inúmeros produtos utilizados pela sociedade diariamente, como na construção civil, veículos diversos e equipamentos de toda serventia, cabe uma reflexão. Porque nossa produção se mantém nos mesmos patamares a mais de 15 anos?
Quando observamos a produção mundial de aço, uma das mais nobres transformações que o minério de ferro pode ter, observamos em levantamento feito pelo Word Steel também um crescimento da produção mundial, que passa de 1.563 milhões de toneladas para 1.885 em 2022, e neste segmento o Brasil tem representatividade desprezível de 34,1 milhões de toneladas de aço bruto, levando o país a ocupar apenas a 9ª posição no ranking da produção mundial.
Com certeza o Brasil possui significativas reservas de minério de ferro de boa qualidade, capazes de ampliar significativamente sua produção, dominando a mesma tecnologia de exploração dos países líderes.
Da mesma forma, as empresas que produzem aço dominam as melhores tecnologias, adotadas nos países que mais produzem aço no mundo.
E a mineração e a silvicultura, que compõem a base da siderurgia brasileira, vem incorporando cada vez mais tecnologias e os princípios ESG em seus processos.
Para aumentar internamente o uso do minério de ferro, produzindo mais ferro gusa e aço verde, nosso gargalo estaria na falta de capital para alavancar o aumento da produção desta cadeia? Estaria na falta de infraestrutura de transporte, na rigorosa legislação ambiental, tributária, trabalhista e aduaneira? Estaria no custo final dos produtos de toda a cadeia, no mercado para aumento na exportação ou no consumo interno, ou numa visão reativa da sociedade para com toda a cadeia produtiva da mineração?
Faltariam novas políticas públicas setoriais (tributárias, regulatórias, trabalhistas, ambientais) para alavancar a produção e os resultados economicos em toda a cadeia, em especial a interna?
Um grande desafio para o SINDIFER, AMIG e AMF.
Ficam aqui estas reflexões.