A formação de cidades, tradições, culturas, crenças, sistemas econômicos e sociais foram caracterizados pelo impacto da mineração ao longo da história
25-03-2023
5h:59
Enio Fonseca*
Se levarmos em consideração a Idade da Pedra, Idade do Bronze e Idade do Ferro, veremos que a evolução do ser humano se deu baseado nas idades da mineração, ao lado também das atividades de agricultura. Hoje estamos no que se denomina a Idade do Silício, que se inicia a partir da segunda revolução industrial junto à expansão tecnológica.
“A evolução da mineração é um dos motivos principais pela evolução do ser humano”. Marcos Lopes
A mineração é uma das atividades mais antigas da humanidade que moldou, ao longo do tempo, as paisagens culturais e influenciou a evolução das civilizações em todas as partes do mundo.
A formação de cidades, tradições, culturas, crenças, sistemas econômicos e sociais foram caracterizados pelo impacto da mineração ao longo da história
Ela hoje é conceituada como uma atividade econômica e industrial que consiste na pesquisa, exploração, lavra (extração) e beneficiamento de minérios presentes no subsolo. Essa atividade é uma das grandes responsáveis pela atual configuração da sociedade em que vivemos, visto que diversos produtos e recursos utilizados por nós são provenientes dessa atividade, como computadores, cosméticos, estradas, estruturas metálicas, fertilizantes, estando presente na geração, transmissão e distribuição de energia, produção agropecuária e abastecimento de água, dentre muitos outros.
A importância da mineração é muito maior do que muitas pessoas têm capacidade de compreender.
Inicialmente, as pessoas conseguem criar associações mentais instantâneas com a construção civil, por exemplo, mas poucas se dão conta que a pedra britada, o cascalho, a areia, o cimento utilizado nas obras, não estaria ali se não fosse a mineração
Qualquer pessoa consegue fazer uma associação mental quando mencionamos carro, caminhões, fogão, geladeira, computador, celular, televisão, elevador e tantos outros objetos e equipamentos com os quais convivemos todos os dias, mas poucos entendem que, se não fosse a mineração, nenhum destes itens existiria.
Quando enxergamos a pujança da produção agropecuária, num supermercado, por exemplo, com variedades incríveis de alimentos de toda ordem, de enxergar que os fertilizantes e a própria água são bens minerais essenciais. Assim como as máquinas agrícolas que preparam o solo e permite a colheita , o seu processamento depende em sua estrutura do ferro, aço e outros minerais
O segmento de energia, nas usinas hidrelétricas, a óleo, biomassa, solar, eólica e biomassa, dependem de bens minerais em todas as suas etapas de implantação e operação.
Minerodutos, oleodutos, tubulações de água, dependem também dos minerais em sua estrutura.
A importância da mineração está por todos os lados e certamente ainda estaríamos urrando em cavernas, caso nossos antepassados mais longínquos não tivessem inaugurado o que conhecemos como idade da pedra lascada ou idade dos metais.
A importância da mineração como uma atividade que mudou a dinâmica evolutiva do homem nos remete à tempos imemoriais.
Desde os primórdios da civilização o ser humano já fazia ensaios sobre o uso dos minerais e rochas visando o subsequente uso desses recursos para suas atividades do cotidiano. Mesmo sem saber como classificar aquelas substâncias, o homem primitivo iniciou os processos de mineração, utilizando fragmentos de rocha tipo o quartzo, como ferramentas de corte ou ponta de lanças para caça, em uma era que ficou conhecida com Era da Pedra Lascada ou Paleolítico, período da história que ocorreu a 2,5 milhões de anos atrás.
Nesse período o uso dos recursos era mais rudimentar e objetivo, buscando viabilizar o estilo de vida nômade da civilização, baseada principalmente em instrumentos de caça e guerra para sua sobrevivência.
Basta que você esteja procurando o melhor mineral, seja qual for a aplicação, e você já estará minerando.
É um exercício interessante imaginar o mundo sem a mineração, e provavelmente, a conclusão a que chegaríamos é de que nossa espécie ainda andaria nua pelas aldeias, trafegando em primitivos caminhos de terra empoeirada, sem nenhum dos recursos de tecnologia e desenvolvimento que desfrutamos hoje.
Após a transição cultural de nômade para residência fixa e o surgimento da agricultura, entramos no período da Pedra Polida ou Neolítico (10.000 a.C. – 3.000 a.C.). Essa mudança foi estimulada devido a processos naturais que o planeta Terra sofreu, devido à saída de um período glacial (cerca de 12.000 a.C) e em decorrência disso houve um aumento da temperatura média global, inundações, surgimento de novas terras e maior estabilidade climática e das estações do ano.
Devido a isso, nesse período, com o início de uma organização, a sociedade desenvolveu métodos de polimento de rochas que seriam usadas como um princípio de roda rudimentar para moer grãos e sementes e assim desenvolver a agricultura, ou ainda um carro de boi. Nesse mesmo período é de conhecimento das primeiras pinturas rupestres, com a utilização de pó de rocha rica em ferro, que fornece a coloração avermelhada, tão comum nessas primeiras artes. Outra utilização é do caulim, que é originado de um mineral bem friável, a caulinita, com a qual podemos desenvolver em pinturas na cor branca.
Após esse período se dá o início das primeiras fusões de minerais (metalurgia) para dar início à formação de ligas metálicas, gerando como resultado o bronze, que nada mais é do que uma liga metálica de cobre e estanho. Com essa técnica começa assim um novo período, a da Era dos Metais como ouro, cobre e prata, sendo os primeiros metais usados pelas civilizações antigas, muito facilitado pelas ocorrências de ambos como pepitas de metais nativos. A habilidade de lidar com esses metais aumenta a precisão das ferramentas e armas, facilitando as atividades relacionadas à agricultura e pecuária, além de vantagens em disputas por territórios.
Em torno de 40000 a.c. são encontrados registros da extração de hematita, com a finalidade de produzir tintas primitivas, que ilustram parte da história da humanidade pelas paredes de milhares de sítios rupestres encontrados pela arqueopaleontologia.
Somente 7.000 anos depois o minério de ferro, como liga, começou a ser amplamente utilizado, inicialmente tendo como principal fonte para ser encontrado e explorado em meteoritos, adquirindo uma importância acima do normal pela ocorrência não usual e sendo posteriormente substituído por fontes convencionais, as minas de ferro, destacando hoje, o Brasil como principal fornecedor de minério de ferro para o mundo.
No Século XII um método para fragmentar as rochas foi desenvolvido. As rochas eram aquecidas em fogueiras e, logo em seguida, rapidamente resfriadas com água. As fraturas que eram formadas facilitavam a quebra com marretas.
No século XVII a pólvora foi utilizada pela primeira vez para realizar o rompimento de rochas. A pólvora foi utilizada por dois séculos até a invenção da nitroglicerina, a dinamite e a gelatina explosiva, no fim do século XIX por Alfred Nobel.
De lá para cá o processo nunca mais parou e tem avançado vigorosamente, no mesmo passo em que a evolução humana se consolida.
Com a evolução do conhecimento geológico da humanidade, passando pelas revoluções industriais e o desenvolvimento do conhecimento científico, hoje o ser humano utiliza uma gama enorme de fontes de minerais, sejam eles para agricultura no uso como fertilizantes ou até em usos mais específicos em naves espaciais ou chips para equipamentos especiais que se utilizam de elementos raros, como neodímio e nióbio”.
A mineração tem importância fundamental para a história da humanidade, fornecendo um grande número de bens minerais, matérias primas e insumos, que foram, são e serão imprescindíveis ao progresso e desenvolvimento das civilizações.
*Enio Fonseca é CEO da Pack of Wolves Assessoria Socioambiental, foi Superintendente do Ibama, Conselheiro do Copam e Superintendente de Gestão Ambiental da Cemig, é parceiro da Econservation.